quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A última vez que vi minha avó

Quem me conhece me acha divertida, alegre, de bem com a vida, mas nem sempre fui assim. Houve uma época em minha vida na qual eu me sentia um lixo. Presa de uma depressão profunda que se arrastou por anos, eu não tinha a menor alegria de viver e tudo o que seria para muitos motivo de alegria em mim não causava nenhuma emoção.

À noite eu conseguia dormir só com calmantes e durante uma ou duas horas apenas. As restantes eu fitava a escuridão, esperando o momento de levantar e enfrentar mais um dia. A idéia de ter que me levantar me aterrorizava, por mais paradoxal que possa parecer, apesar de passar a noite em claro, o que eu mais gostaria de fazer é não me levantar nunca mais, dormir até o dia de minha morte.

Como uma coisa leva à outra, a idéia de morte foi instalando-se em minha cabeça até tornar-se uma idéia fixa. E de tanto pensar em morte, um dia comecei a pensar que eu poderia chegar a ela mais rápido. E a idéia de suicídio começou a flertar comigo, a cada dia ela se tornava mais atraente, até que um dia, numa crise de desespero, decidi que aquele seria o último dia daquela amarga existência.

Já estava com tudo pronto para o ato de loucura quando um último sentimento de culpa me impeliu a ir ver se minhas 3 filhas pequenas estavam bem em suas caminhas antes de torná-las órfãs. Eu estava no banheiro de minha casa, teria que passar pela sala para ir ao quarto delas, e na sala havia uma porta dupla de vidro que dava diretamente para o sofá da sala.

Quando me aproximei da porta para abrí-la e entrar na sala vislumbrei através do vidro um vulto de uma pessoa sentada no sofá. Meu primeiro sentimento foi de medo, pois além de minhas filhas que deviam estar dormindo não havia mais ninguém em casa além de mim. Meu segundo pensamento foi de que se eu estava mesmo disposta a ir até o fim, que importância teria se ali estivesse um estranho, ladrão ou o que fosse, disposto a dar-me uma ajuda em minha tão difícil tarefa?

Pensando assim abri a porta de vidro de uma vez, disposta a apresentar-me a quem quer que estivesse sentado no sofá de minha sala, mas assim que abri a porta fiquei paralisada. Lá estava minha avó, desencarnada cerca de 6 anos antes. Estava sentada, as mãos cruzadas no colo e simplesmente me olhava. Em seu olhar havia amor, compaixão e uma súplica muda que eu logo entendi.

Assustada retrocedi, fechando a porta novamente, e quando voltei a abrí-la minha avó não estava mais ali. Fiquei horas imaginando como aquilo seria possível, se eu não estaria ficando louca, etc. Quando dei por mim meu marido estava de volta e eu me esqueci completamente do ato tresloucado que imaginara fazer naquele dia.

Tempos depois entendi como a aparição dela mudara completamente o rumo de meus pensamentos, fazendo-me esquecer e posteriormente desistir de atentar contra minha própria vida, fugindo de meus problemas e deixando-os multiplicados para os que ficariam, e que eu amava. Entendi também que o ato que estivera prestes a praticar seria prejudicial não só para mim e minha alma imortal, mas também para todos aqueles que ficariam nessa existência terrena, sem entender o que se passara para que eu me fosse de forma tão violenta e amarga.

Essa foi a última vez que vi minha avó.

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2 comentários:

  1. Que visita inesquecível!
    Já vive essa tal de depressão durante 8 meses.Fotam os piores meses da minha vida e para a minha família também.
    Bjsss...milll...!!!

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  2. A visita foi mesmo inesquecível e ficou claro para mim seu motivo. E teve resultado ou eu não estaria aqui agora.
    Apareça sempre!

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