sexta-feira, 23 de maio de 2008

Premonição

S. era minha amiga há alguns anos, vez por outra vinha à minha casa e passávamos horas conversando sobre amenidades ou assuntos mais sérios. Fosse pessoalmente ou por telefone nosso papo sempre fluía alegre e interessante, tínhamos muita coisa em comum.

Naquela tarde ela apareceu sem que eu a esperasse, e ela sempre combinava comigo antes quando pretendia me visitar porque eu costumava sair no final de semana. Assim que a vi no portão notei que ela estava diferente, talvez um pouco alterada. Ela tinha a pele clara mas naquele dia estava um tanto pálida, seus olhos tinham um brilho diferente e estava muito agitada. Fumava um cigarro atrás do outro, gesticulava muito, falava sem parar, levantava e sentava várias vezes.

Logo que começamos a conversar notei que logo atrás dela havia uma espécie de sombra, algo como um esboço da figura dela, um pouco maior que minha amiga. A princípio era apenas uma leve imagem, como a que se forma com o vapor, mas aos poucos senti que ia se tornando mais e mais visível.

À essa época eu já estava acostumada a ver coisas estranhas para as quais já havia desistido de buscar explicações e tinha também aprendido a viver com elas. Enquanto conversávamos fui aos poucos passando o braço pelo encosto do sofá tentando tocar "a coisa", mas assim que minha mão se aproximou a "imagem" se afastou tomando uma forma levemente côncava em volta do local onde eu estava com a mão.

Imediatamente minha amiga parou de falar e estremeceu de leve.

- Credo, senti um arrepio. - disse ela.

Mas logo continuou a tagarelar. Ela estava bem falante naquele dia, contando como fora sua semana e as brigas com o namorado com quem estava já há 3 anos e com o qual brigava e reatava toda semana.

Passamos assim a tarde toda, ela falando pelos cotovelos e eu notando que a figura atrás dela a cada hora tornava-se mais nítida e vez por outra tentando tocá-la (talvez assim se tornasse mais real para mim), mas sem sucesso.

Já estava tarde quando ela resolveu que já era hora de ir para casa, já ia saindo com aquela sombra que a acompanhava, mas ao sair pela porta virou-se, veio em minha direção e deu-me um abraço apertado.

- Você é minha melhor amiga - disse. Virou-se e foi embora. Do portão fiquei acompanhando com os olhos enquanto ela se afastava e ela deve ter pressentido meu olhar em suas costas, porque antes de dobrar a esquina virou-se e acenou um "tchau". Senti um aperto no coração e um nó na garganta que não soube explicar até que à noite a mãe de S. me ligou aos prantos, dizendo que sua filha acabara de dar entrada no pronto-socorro da cidade onde teve uma parada cardíaca e não foi possível...

Eu já não estava mais escutando, tudo que me vinha à cabeça era a estranha figura que viera com ela, sua tagarelice anormal, o fato de ter-se virado para me dar um abraço como se estivesse se despedindo e o aceno final. Nunca mais a veria, pelo menos não nesse mundo, e ela aparentemente sabia disso.

(zailda coirano)

Um comentário:

  1. E aí? Voce teve notícias dela depois do desencarne?
    O que seria aquela sombra?
    Se ela era sua amiga deve ter se preocupado com a tal sombra que a acompanhou até sua casa. Tentou algum contato com ela?

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