segunda-feira, 23 de junho de 2008

Segunda chance

Dizem que a primeira impressão é a que fica. Quando conheci Marques ele era pouco mais que um garoto e foi assim que o vi: um garoto metido que se achava "o cara". Ele por seu lado me viu tal qual eu era então: uma mulher orgulhosa, voluntariosa, prepotente.


Isso foi há mais de 20 anos e nos encontramos pela primeira vez em uma festa na qual mal nos falamos, apenas um aperto de mão e talvez um aceno de cabeça, essas coisas de praxe.


O destino fez com que cada um seguisse seu caminho: ele viveu um casamento de 18 anos, uma relação dolorosa e arrastada que o lhe deixou mágoas e cicatrizes. Eu me debati entre muitas relações, nas quais buscava compreensão e o amor verdadeiro. Como eu me mudara de Diadema, durante anos mais de 600 km nos separavam.


Mas durante esse tempo a vida nos ensinou e nos moldou, e nunca deixamos de procurar o verdadeiro amor, o par perfeito com quem pudéssemos ter uma relação equilibrada e harmoniosa.


Um dia, por essa ironias da vida, vim a São Paulo na última tentativa de encontrar a alma gêmea, esse ser que eu tanto ansiava amar. Mas à medida que os minutos de minha espera se transformavam em horas e esse ser não aparecia, minha esperança se desvanecia como areia que escapa pelo vão dos dedos.


Ao final, como refúgio para meu desencanto e decepção, fui para a casa da mãe de Marques, minha amiga e comadre há muitos anos. Quando cheguei as palavras foram pequenas para descrever o que eu sentia e o que se passara, e então as lágrimas falaram por mim.


Marques se aproximou porque aquela mulher capaz de viajar quase 700 km em busca de um amor de verdade não condizia com a imagem que ele guardara de mim esses anos todos. Eu me sentia derrotada e ele se curava de uma depressão após a separação.


Assim começamos a conversar, dois seres humanos querendo ser ouvidos e entendidos, com a alma nua e o peito aberto e sem reservas. Naqueles olhos castanhos que pareciam ler minha alma eu mergulhei minhas queixas e minhas histórias e aos poucos fomos reconhecendo um no outro o gêmeo do qual fomos separados ao nascer.


O amor brotou, cresceu, deu galhos e frutos.


Creio que a primeira impressão é importante mas em nosso caso ela teve que ser reformulada, pelo muito que a vida nos mudou. Somos hoje outras pessoas, que nada têm a ver com o que éramos há vinte e tantos anos. A vida se encarregou de nos separar porque ainda não era a hora de nos pertencermos. Não estávamos ainda prontos, tínhamos um longo caminho pela frente antes de nos encontrarmos novamente frente a frente, com a defesas baixadas para que a vida finalmente nos apresentasse uma segunda chance de ser feliz.

(escrito por Zailda Coirano)

sábado, 21 de junho de 2008

Vida após a morte

Um médico um dia notou que as experiências narradas por pessoas que estiveram "mortas" por alguns minutos eram muito semelhantes e começou a pesquisar os casos. Acabou escrevendo um livro, onde conta essas experiências e só mesmo sendo muito cético para não acreditar que elas comprovam a existência de uma outra vida depois dessa que vivemos aqui na terra.

Conta o médico em seu livro que a maioria dos pacientes ao acordar conta sobre a sensação de estar saindo de seu próprio corpo, sobrevoando a equipe médica que tentava reanimá-los e depois terem se distanciado cada vez mais. Outra coisa em comum é que todos viam uma luz muito intensa e em algum momento afastaram-se dela e retornaram ao corpo.

Um dos casos que mais me impressionou foi de uma mulher que chegou ao hospital já em coma, e que ao acordar narrou a mesma coisa, só que também contou que ao elevar-se sobre o hospital viu um sapato vermelho no telhado do prédio. Foram lá ver e constataram que ela dissera a verdade: o sapato estava mesmo lá.

Claro que os céticos dirão que isso foi armação, que ela já devia ter jogado o sapato lá para o caso de ter que contar essa história depois. Mas será que ela planejou também entrar em coma e ter que ser reanimada com choques?

Bem, isso não vem ao caso. Para mim a vida após a vida existe de fato, e creio nisso firmemente sem precisar de provas materiais. Acho que fé é isso. E usamos o nosso livre-arbítrio para fazer nossas escolhas, e essa é uma delas: cremos ou não.

(zailda coirano)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Despedidas

Minha sogra tinha mais de 90 anos e muitos problemas de pressão quando seu filho caçula morreu repentinamente de ataque cardíaco. Os outros filhos, consternados, não sabiam como contar a ela, temendo que a notícia fosse demais para ela. Meu marido na época, que é enfermeiro, levou um aparelho de medir pressão, chamou um médico para acompanhá-lo e pediu que deixassem uma ambulância na porta da casa de sua mãe.

Foram os 5 filhos dela à sua casa e a chamaram à sala, dizendo que tinham algo a contar a ela. Ela disse simplesmente, numa calma que assustou a todos:

- Não precisa me contar nada, eu já sei. Foi o Carlão, não é? Sonhei com ele essa noite. No sonho ele batia na janela do meu quarto, eu abri e ele me pediu que lhe passasse uma roupa branca. Passei uma calça e uma camisa brancas, entreguei a ele pela janela e ele me disse: "Tenho que ir agora, mãe. Até qualquer dia."

(zailda coirano)


sábado, 7 de junho de 2008

Como o espiritismo entrou em minha vida

O espiritismo entrou em minha vida depois de eu ter perambulado por muitas igrejas procurando por respostas que não havia encontrado na religião católica, na qual fui criada. Questões como:

- por quê algumas pessoas parecem ter nascido para sofrer?

- por quê algumas pessoas fazem tanta maldade e não são castigadas?

- por quê Deus permite que se façam maldades contra pessoas boas?

ficavam sempre sem resposta ou com respostas evasivas tipo:

- Não nos cabe perguntar sobre os desígnios de Deus.

E acabava ficando tudo por isso mesmo. Quando pela primeira vez me foi oferecido para leitura "O livro dos espíritos" de Allan Kardec, pareceu-me que um largo horizonte de compreensão se estendia pela primeira vez à minha frente.

Estou aqui definida nesse site como agnóstica e assim me considero porque não frequento centros ou quaisquer igrejas, mas acredito pia e firmemente na doutrina espírita e por ela tento me guiar sempre.

O espiritismo trouxe luz à minha alma, trouxe o entendimento e através dele, a fé extrema nesse Ser Supremo que não é de forma alguma injusto como eu supunha quando era católica: é um Deus de amor e de misericórdia infinita.

(Zailda Mendes)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Os "responsos" de minha avó

Desde pequena acostumei-me a ver coisas "diferentes". Sempre que alguma coisa sumia era só falar com minha avó. Se fosse uma coisa importante ela se fechava em seu quarto em meditações e orações e quando saía de lá simplesmente ordenava:

- Olhe na segunda gaveta da cômoda.

E ia para a cozinha, como se a coisa já estivesse resolvida e fosse a mais natural do mundo. Era só ir lá na segunda gaveta da cômoda e lá estava o objeto perdido, tão certo quando dois e dois serem quatro.

E vinham pessoas de fora falar com minha avó, e era a mesma cena, com a diferença que ela pedia que as pessoas fossem para suas casas que assim que terminasse o responso ela as avisaria.

Lembro-me que nessa época em Araçatuba só se conseguiam empregadas domésticas quando acabava a colheita do algodão. Quando a colheita recomeçava elas largavam as casas onde trabalhavam e iam para o campo novamente, mas bastava terminar a colheita que elas visitavam as casas, em grupos de 2 ou 3, procurando empregos.

Naquela época também era comum as mulheres contratarem empregadas sem referências porque a criminalidade ainda não estava nos níveis de agora, principalmente no interior do estado, portanto minha avó costumava contratar essas moças que passavam de casa em casa em busca de emprego.

Dentre as centenas que passaram por minha casa houve uma que trabalhou muito bem no primeiro dia mas não apareceu no segundo. Eu senti muito porque sempre que havia empregada nova eu ficava rodeando-a, xeretando e conversando. Perdera a nova amiga, portanto. À tarde resolvi dar um passeio e não encontrei meu vestido novo e nem meu tamanco anabela. Fui falar com minha avó. Ela entrou em seu quarto e de lá saiu com a cara muito fechada. Disse-me apenas que a acompanhasse.

Morávamos no centro de Araçatuba e fomos caminhando até chegar a um bairro afastado, o bairro São João, que na época era cheio de vielas com casas pobres e barracos. Paramos numa das ruas e ela bateu palmas em uma casa. Fiquei surpresa porque minha avó era analfabeta e não perguntava o endereço das empregadas, mesmo porque ela não conseguiria se lembrar depois. Caso a empregada passasse no "período de experiência" era minha tarefa então anotar seu endereço.

Assim que ela bateu palmas saiu de lá de dentro a tal empregada fujona, com uma cara lambida. Minha vó foi logo dizendo a ela pra buscar o vestido, o tamanco e o short azul.

"Mas que short?" - pensei eu, que não havia dado falta de short nenhum. Mas minha vó sabia do que estava falando, porque daí a pouco veio a moça com uma sacolinha. Dentro estavam meu vestido, meu tamanco e meu short azul, que eu nem sabia que havia sumido.

Acho que "herdei" alguma coisa de minha avó, não tão apurada quanto a dela, mas quando alguma coisa some em casa, se eu fechar os olhos e me concentrar consigo "visualizar" onde a coisa está. Isto é, na maioria das vezes e se a coisa estiver mesmo em casa. No caso dela (que não sei explicar) era bem mais forte porque ela realmente "sabia" exatamente onde estava qualquer objeto perdido.

(zailda coirano)

Ratings by outbrain

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails