Quando eu estudava na Universidade Metodista tinha que tomar um ônibus até o Paço Municipal de São Bernardo e então um outro até Diadema, onde eu morava. Como era à noite, às vezes ficava complicado pra tomar o ônibus porque eu não via muito bem o letreiro.
Numa noite dessas em que o ônibus estava demorando muito eu me sentei debaixo de uma guarita e uma senhora muito simpática e tagarela começou a puxar prosa. Eu ouvia e abanava a cabeça, que ia longe com meus próprios pensamentos, enquanto vigiava pra ver se meu ônibus não chegava.
Num desses momentos eis que chegam logo 3 de uma vez, e de onde eu estava não via muito bem, então me levantei e dei uns passos até o meio-fio pra ver melhor, dando aquela espichada básica de pescoço pra enxergar à noite e ainda por cima o astigmatismo atrapalhando.
Estou naquele exercício de estica pescoço, franze testa, pisca forte, quando ouço um baque forte bem atrás de mim. Pra minha surpresa a guarita sob a qual segundos antes eu ouvia a simpática velhinha tagarela falar pelos cotovelos agora está que é um escombro só. Toda detonada, vejo apenas entre as pedras uma alça da sacola que a falante senhora segurava. E um sinistro fio de sangue escorre na calçada.
Correria, gritaria, a mente confusa demora uns minutos a entender o que se passara: alguém em desespero pulara de uma das janelas do prédio em frente à calçada onde estávamos, e no seu pulo pra outra vida, inadvertidamente levara consigo a distinta senhora que agora com certeza estaria levando uma animada prosa com São Pedro.
- Não sei, meu filho. Eu estava lá esperando o ônibus, de repente "tchibum" e agora estou aqui...
No fim das contas, era o meu ônibus mesmo, entrei meio cabisbaixa e na minha mente iam coisas estranhas, como os mistérios da vida e em como o fato de não usar óculos (e portanto não enxergar direito) poderia ter - quem sabe? - me concedido alguns anos a mais por aqui.
(zailda mendes)
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