Eles se despediram no portão da casa dela com um beijo carinhoso, como sempre. Ele a observou enquanto abria o portão e ficou olhando até que ela desapareceu por trás deste. Era tarde e ele seguiu o caminho de sua casa, ia feliz relembrando os momentos agradáveis que haviam passado naquela noite.
Enquanto caminhava para casa, ele ia distraído imaginando o que diria a ela quando chegasse em casa, porque aquilo já era um ritual só deles: assim que chegava já ligava no celular dela pra desejar-lhe boa noite. E ela ficava esperando essa ligação sem a qual não conseguia dormir.
Ele ia assim, pensativo e distraído, quando ao passar em frente a um hospital ouviu um ruído forte e ao virar-se viu apenas uma ambulância que saía apressada. Então não viu mais nada.
Ela em seu quarto esperava o telefonema carinhoso que tardava. Ela já estava aflita, já era tempo de ele ter chegado em casa. Será que esquecera? Estendeu a mão para pegar no celular pela décima vez quando ele tocou. O celular era um amigo que a acompanhava porque através dele os dois mantinham contato o dia inteiro. A cada folga no trabalho ela ligava para seu amado e ele fazia o mesmo. Ela olhou a telinha, onde o nome dele aparecia. Era ela chamando-a.
Ela atendeu alegre, mas a ligação estava ruim, a voz dele parecia vir de longe, soava fraca e mal podia ouví-la.
- Sou eu, meu amor. Só liguei pra te dizer ADEUS.
E a ligação foi cortada. Aquilo era uma brincadeira - pensou ela. Indignada ligou de volta imediatamente. Alguns segundos depois, que pra ela pareceram séculos, uma voz de homem atendeu. De forma confusa ela entendeu que estava falando com um sargento da polícia militar.
- Moça, sou o sargento Pereira e o dono desse celular sofreu um acidente. A senhora é parente dele?
- Acidente como? Ele acabou de me ligar, então liguei de volta!
- Mas quando ele ligou pra senhora?
- Ora, não faz nem 2 minutos!
- Impossível, minha senhora. O acidente aconteceu há mais de meia-hora, e infelizmente não houve tempo de socorrê-lo, ele morreu no local.
Ela ficou do outro lado, o celular esquecido nas mãos, os olhos perdidos na escuridão do quarto, um frio impregnando-lhe a alma.
(por Zailda Mendes)