domingo, 27 de abril de 2008

Manifestações do outro lado

Acredito que as pessoas que já se foram continuam habitando esse mesmo mundo, apenas estão em outra dimensão e nem todos podem vê-los. Acredito também que nem todos os que podem vê-los têm consciência do que estão vendo.

Muitas vezes aconteceu comigo de estar entre muitas pessoas e não saber quais delas são dessa ou de outra dimensão. E você? Quando está rodeado de outras pessoas, sabe quais delas pertencem a esse mundo, e quantas delas já o habitaram mas não estão mais entre nós? Sabe diferenciá-las umas das outras? Como?

(zailda)

domingo, 20 de abril de 2008

Inspiração

Acho muito interessante a forma como me vem a inspiração para escrever. Muitas vezes acordo com um assunto na cabeça, às vezes até um  texto completo. Já me aconteceu de escrever textos e poemas inteiros durante a noite e ao acordar dou com eles ali, sem me lembrar de tê-los escrito. Não sei se os escrevo dormindo ou se acordo apenas para colocar pra fora o que me vai na cabeça e depois não me lembro.

Há fases em que essa inspiração me assalta muito mais, houve até uma ocasião em que escrevi cerca de 100 poemas em 3 dias. Eu me sentia como que tomada pela inspiração e não conseguia fazer nada mais que escrever, até comer eu comia escrevendo, levantava várias vezes à noite para botar no papel o texto que tinha na cabeça e passava muitas e muitas horas escrevendo freneticamente.

Em outras ocasiões eu escrevia crônicas uma depois de outra e só conseguia dormir depois de esvaziar a cabeça de todas as idéias que haviam se formado.

Acho interessante a forma que a inspiração me atinge, por vezes me abandona por meses ou anos e posso ficar sentada horas a fio tentando escrever alguma coisa que não sai absolutamente nada.

Imagino que a forma de me inspirar tem alguma coisa de espiritual, acho que estou em sintonia com outros espíritos que me assopram o que devo escrever ou coisa assim, e se não consigo a conexão, nada feito.

(zailda mendes)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Sonho repetido

Durante muitos anos eu tive o mesmo sonho que acontecia sempre da mesma maneira. E depois dele eu sempre acordava com a impressão de que ele era mais real que meu quarto e as coisas que estavam a meu redor. Eu ficava tão atordoada que demorava a perceber que era apenas um sonho, de tão real que era.

Nesse sonho eu estava com roupas antigas, vestidos que iam até o chão e tomava conta de 4 crianças. Elas corriam ao meu redor e quando eu ia tirar água de um poço elas corriam e entravam em um barracão de madeira e subiam por uma escada que lá havia.

Minha reação era de desespero, eu jogava o balde de água no chão e corria atrás delas, chamando-as num idioma que se parecia com holandês. Eu subia a escada atrás delas e entrava num aposento. A princípio não se via nada pois estava em quase total escuridão. Aos poucos eu via uma criança de dentes pontiagudos e desiguais cujo sorriso mais parecia uma careta de dor. Ela estava amarrada a uma cama de madeira que se parecia a um tablado e as janelas do aposento estavam fechadas e lacradas com pedaços de madeira. Um pequeno lampião estava ao lado da cama, única fonte de luz do lugar.

Eu parava ao lado das crianças, aterrorizada, e elas após um primeiro momento de indecisão aproximavam-se da cama, estranhando a figura tão grotesta. Meu coração batia descompassado e eu tratava de reunir as crianças para tirá-las de lá, mas elas começavam a correr ao redor da cama para fugir de mim, numa brincadeira comum de crianças. A criatura amarrada à cama parecia divertir-se com aquilo e soltava risos que demonstravam seu retardo mental.

Aproximando-me percebi que as correias entravam em sua carne, deixando muitas marcas em vários estágios de cicatrização. Também senti um cheiro horrível de excrementos, a criança deveria fazer suas necessidades na própria cama e ninguém se encarregava de limpá-los. Fugi dali, enojada, finalmente arrastando as crianças comigo à custa de brados e ameaças.

Porém ao sair do quarto uma delas esbarrou no lampião próximo à cama da criança e logo as chamas começaram a se esparramar pelo quarto. Fugi com meus pupilos escada abaixo, abandonando a criatura à própria sorte. Já no final da escada ouvia seus gritos (mais parecidos a urros de animal), e deduzi que as chamas já haviam chegado à sua cama.

Já ia saindo do barracão quando me dei conta de que aquela criatura, mesmo apresentando a forma que mais se assemelhava à de um animal, ainda assim era um ser humano e sobretudo era uma criança e portanto eu não poderia permitir que morresse abandonada à sua sorte.

Subi novamente as escadas pulando os degraus de dois em dois, mas quando abri a porta do quarto já as chamas e a fumaça o haviam tomado totalmente, não se via nem a criança nem nada mais, o fogo já tomara completamente o aposento.

Nesse ponto eu sempre acordava desesperada e mesmo depois de bem acordada ainda podia sentir o calor do fogo e o cheiro da fumaça por algum tempo, chegava a abrir a janela para que o ar fresco varressem essa sensação.

Tive esse sonho durante anos e anos a fio, dos 13 anos (logo que comecei a desejar um dia adotar um filho) até a noite anterior à chegada do Alan em casa. O fato de eu ter 4 crianças comigo também é sugestivo porque além do Alan eu tenho outros 4 filhos, que não foram adotados.

(zailda mendes)

terça-feira, 1 de abril de 2008

A ironia do destino

Não citarei nomes porque eles não vêm ao caso, mas outro dia me deram uma notícia que me fez pensar sobre a ironia do destino e em como nossa vida segue por rumos que jamais suspeitaríamos anos antes.

Há alguns anos, morando em Pacaembu, soube por colegas que trabalhavam comigo do drama que vivia um conhecido. Sua esposa lutava contra um câncer no fígado e mesmo passando por tratamentos dolorosos e penosos não havia a menor chance de recuperação. Eu mesma, ao vê-la depois de ter iniciado o tratamento tive um choque.

Ela nunca fôra bonita, mas era uma mulher de aparência agradável, séria e de poucas palavras, mas muito educada. Beirava os 30 e sua vida girava em torno do marido e do filho de 12 anos. Depois da doença ficou cadavérica, tão magra que quase se poderia ver os ossos. Quando a encontrei parecia uma anciã de 80 anos.

Nesse momento de desespero a tentação se aproximou e dominou o rapaz. Sem poder contar com a presença da esposa, começou a sair com uma garota de 18 anos. Era uma garota exuberante, olhos verdes e corpo escultural, cujo ponto alto eram os seios, que ela fazia questão de exibir com roupas justas e decotadas.

Vinda de família pobre, interessou-se logo pelo rapaz, que tinha um bom emprego e um salário muito interessante, que proporcionava todo o conforto à família e que logo despertou na moça a vontade de aproximar-se dele.

Contam os mais próximos que ela mais de uma vez tentou se aproximar, até que num desses momentos de fraqueza da vida ele tornou-se seu amante. E ela pedia presentes e roupas caras, que fazia questão de exibir como "presentes do meu coroa".

Como o caso da esposa dele era muito grave o tratamento foi suspenso e ela voltou para casa, talvez para aproveitar os últimos momentos junto da família. Bem nessa época a garota descobriu que estava grávida.

Mais de uma vez eu a vi comentando que precisava cuidar muito bem dessa gravidez porque ela era sua "loteria". A partir daí passou não mais a pedir, mas sim a exigir presentes cada vez mais caros e a pressionar o rapaz dizendo que se não fizesse o que pedia contaria do caso deles para sua esposa.

A pressão foi ficando tão forte que ele não mais suportando deu um basta e terminou a relação. A partir daí ela começou a fazer escândalos na porta da casa dele, e mais de uma vez os vizinhos a viram discutindo com a esposa (que saía da cama para pedir-lhe para parar com aquilo pelo amor de Deus), quanto com o rapaz e mesmo com o filho adolescente deles.

A criança nasceu, foi feito um pedido de pensão e a partir daí a garota não mais incomodou, satisfeita com o "pagamento" por seus serviços sexuais, e apesar do diagnóstico contrário, a esposa curou-se e de comum acordo ele pediu transferência para outra cidade e foram viver em paz.

A garota mudou-se também, foi viver sua vida. Casou e descasou, deu suas cabeçadas na vida e por fim retornou a Pacaembu. A última notícia que recebi dela foi de que ela (agora na casa dos 30, como a esposa do rapaz estava naquela época) estava com câncer na mama e que teve que retirar os seios, dos quais tanto se orgulhava. Ainda não se sabe se sobreviverá e se o câncer foi mesmo extirpado.

Depois dessa notícia fiquei comparando os destinos das duas. A esposa do rapaz que eu saiba está bem, da última vez que ouvi notícias estava toda orgulhosa ao lado do marido na formatura do filho, que agora é médico.

Mas o que me fez meditar foi a semelhança das histórias, o câncer aos 30 anos, o diagnóstico negativo dos médicos. Às vezes a vida nos mostra seu lado irônico e ficamos pensamos se seria mesmo verdade que "aqui se faz, aqui se paga".

(zailda mendes)

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