Compulsiva
A vida nos prega peças quando nos dispomos a vivê-la em toda sua plenitude. Somos então como pássaros que se atiram a um vôo cego em busca da liberdade, da luz, do ar puro, das grandes sensações. Sempre que nos lançamos à vida em busca de viver tudo integralmente nos tornamos também um alvo, e esse é um risco que temos que correr.
Pássaro ferido, abatido durante seu vôo noturno se recolhe, se encolhe. Mas o tempo passa, a vida é curta, e ela chama para novas aventuras, novas sensações, um eterno recomeçar. E novamente lá estamos envolvidos com nosso destino, cumprindo nossas missões grandes ou pequenas.
Muitas pessoas passam por nossa vida. Umas permanecem, outras se vão. Algumas deixam marcas indeléveis, pelo muito que nos ensinaram, pela enormidade que nos doaram. Outros, infelizmente, estão fadados ao esquecimento, pouca diferença fazem, apenas almas irmãs, envolvidas em sua própria caminhada, nas quais esbarramos quase que por acaso. Às vezes nos enganam, ou nós mesmos nos enganamos achando que vieram pra nos trazer luz, amor, ternura. São vazias, centradas apenas em si mesmas e por mais que batamos à porta de seus corações eles jamais se abrirão.
Essas pessoas por vezes nos magoam, nos desgastam, sugam um pouco daquilo que mais invejam em nós: a capacidade de amar, de voar, de buscar.
Nós, que temos asas, nós que sabemos voar, nós que sabemos verdadeiramente doar, nós que por algum mistério do Pai Eterno aprendemos a amar, não podemos deixar que essas pessoas que apenas atravessam nosso caminho por momentos nos deixem marcas. Não podemos permitir que por sua causa deixemos de acreditar. Não podemos deixar que nos levem a esperança, a confiança nos outros seres iguais a nós, que receberam também o dom de saber partilhar.
Voaremos todos, em bandos, procurando nossas metades, nem que essas metades nos acompanhem apenas por uma parte do caminho. Não importa, vale a troca, vale o amor partilhado, que mesmo que não seja eterno, é verdadeiro e forte quando encontrado.
As almas ocas que nos olham lá de baixo, caminhando pelo deserto de sol ardente jamais aprenderão a voar. É justo que rastejem na areia quente esbarrando-se umas nas outras, enquanto temos o céu, a luz do luar.
Coração batendo temos dentro do peito, feito para amar, para sofrer, para sentir. Temos sim, sentimentos que podem ser feridos, esmagados, desprezados. Para alguns eles não têm nenhum valor. Mas para nós que temos a capacidade plena de senti-los e vivê-los, são nossa razão de viver, nossa razão de voar.
(escrito por Zailda Mendes)